A história do LSD é relativamente recente. Ela começa em 1943, com o químico suíço Dr. Albert Hoffman, que trabalhava para os Laboratórios Sandoz pesquisando derivados do Claviceps purpúrea, também conhecido como ergot, um fungo que atacava o centeio. Os alcalóides desse fungo já haviam sido isolados alguns anos antes, mas pela primeira vez o Dr. Hoffman constatou sua presença em plantas mais elevadas, da família das Convolvuláceas. Essas plantas – a Rivea corymbosa e a Ipomoea violácea – eram empregadas há séculos na América Central pelos índios zapotecas. Acredita-se que os alcalóides sintetizados por Hoffman no fungo do centeio foram responsáveis pelos delírios que acompanhavam os sintomas da peste negra que grassou pela Europa, na Idade Média, quando populações inteiras eram intoxicadas ao comer pão feito com centeio contaminado pelo Claviceps purpúrea. Ao realizar experiências com o ácido dietilamida d-lisérgico, a vigésima quinta substância extraída numa série de testes com o fungo, o Dr. Hoffman absorveu, acidentalmente, através da pele, uma quantidade mínima de droga. Intrigado com os efeitos que experimentou, o cientista baptizou a substância como LSD-25 e resolveu fazer novas pesquisas com ela, escrevendo mais tarde um relatório que chamou a atenção do mundo científico para a descoberta de uma droga que, segundo Hoffman, podia deflagrar um estado de realidade alterada. No começo da década de 60, o LSD-25 foi empregado experimentalmente em sessões de psicoterapia, principalmente nos Estados Unidos, onde seu uso era legal. Das clínicas e das universidades, a droga espalhou-se para o mundo, transformando-se, junto com a "beatlemania" e a revolução sexual, em símbolos de uma época que, para muitos, representava o início da Era de Aquário.
Embora seu uso tenha sido legalmente restrito a partir de 1963, o ácido lisérgico continuou sendo fabricado em laboratórios clandestinos e consumido em grande quantidade. Mas, a partir de 1969, seu consumo começou a diminuir, ao mesmo tempo em que se desvanecia o sonho dos anos 60. Nas décadas posteriores o LSD se tornou droga fora de moda e hoje o seu uso é raro. Enquanto esteve em voga, o ácido lisérgico influenciou profundamente a música, o cinema, as artes plásticas e os costumes, num amplo movimento que ficou conhecido como psicodelismo.
O LSD-25 é classificado oficialmente como droga alucinógeno, embora alguns especialistas sustentem que a substância não pode ser considerada dessa forma pois não provoca alucinações. Assim considera-se que a substância seja uma droga psicomimética: ela induziria sintomas que simulam, ou mimetizam psicoses, como a esquizofrenia. Mas nada disso está demonstrado. O que se sabe com certeza é que o LSD permanece no cérebro durante um período de vinte minutos. A maior parte da droga vai para o fígado e os rins, sendo que o ácido lisérgico pode ser detectado na corrente sanguínea apenas por duas horas depois de ingerido. Relatórios norte-americanos afirmam que os efeitos do LSD são resultado da liberação ou da inibição de substâncias que já existem no cérebro, as quais alteram o equilíbrio químico desse órgão. Quer dizer, não é a droga que causa alterações de consciência – o LSD deflagra, isto sim, relações do próprio organismo. Os primeiros efeitos do LSD são físicos e começam cerca de uma hora depois da ingestão da droga. Eles variam de uma vaga sensação de ansiedade à náusea, sendo acompanhados por aceleração de pulsação, pupilas dilatadas, elevação da temperatura, batimento cardíaco e pressão sanguínea, além de inquietação e redução do apetite. Em seguida, o usuário entra num estado de grande sugestionabilidade: impressões subconscientes afloram aos borbotões, enquanto a capacidade de receber e analisar de forma estrutural as informações do ambiente fica distorcida, podendo até desaparecer. A experiência, que varia muito de uma pessoa para outra, pode induzir a sinestesia, um estado de cruzamento dos sentidos, no qual o usuário "vê" a música e "ouve" as cores. A percepção espacial também é alterada e as cores têm sua intensidade realçada; imagens caleidoscópicas e tridimensionais flutuam no vazio. O sentido de tempo se desfaz, e passado, presente e futuro parecem não ser fronteiras.
Alguns pesquisadores afirmam ter documentado empregos terapêuticos do LSD, já que a substância induziria "auto-aperfeiçoamento, aumento do interesse por questões filosóficas, teológicas e cosmológicas, e iluminação espiritual. Respostas emocionais e padrões aprendidos de comportamento podem ser alterados pela droga, resultando numa eventual mudança de estilo de vida. Empatia e comunicabilidade podem ser alteradas até chegar ao ponto da telepatia, embora todos esses efeitos possam ser resultados de características da personalidade de cada usuário. Muitas das grandes mudanças de estilo de vida atribuídas ao LSD podem ser podem ser explicadas sociologicamente em vez de quimicamente". Autores norte-americanos consideram que a droga não gera dependência física, mas provoca tolerância se diversas doses forem tomadas sucessivamente. A dependência psicológica também é rara, uma vez que a intensidade da experiência lisérgica desencoraja os usuários a consumirem novas doses num curto período de tempo. A tolerância diminui rapidamente à medida que a ingestão de LSD é reduzida, tendendo a desaparecer três dias depois da suspensão do consumo. Não existem sintomas documentados de síndrome de abstinência. Também devido à intensidade da "viagem" causada pelo LSD, o usuário pode ficar mais sujeito a acidentes, e este talvez seja o maior dos perigos provocados pela droga. Os estudos médicos são raros e incompletos, sendo que, em 1967, nos Estados Unidos, foi publicado um relatório afirmando que o ácido lisérgico pode danificar os cromossomos. Testes de laboratório sugeriram que o LSD talvez cause alterações cromossômicas, assim como a cafeína, os raios X, as infecções viróticas e as queimaduras solares.
O usuário de LSD também está sujeito as chamadas bad trips, ou "viagens ruins", nas quais pode ser levado a estados emocionais depressivos, que podem evoluir para reacções psicóticas e paranóia. Em casos extremos, esses estados podem prolongar-se por toda a viagem, que se transforma em verdadeiro pesadelo. Tais problemas são geralmente causados pela predisposição do usuário, embora também possam ser resultados de adulterações no LSD vendido ilegalmente sob a forma de cápsulas, comprimidos, micropontos, gotas em papel mata-borrão e folhas de gelatina. Outro efeito colateral a que se sujeita o usuário de LSD é o fenómeno conhecido como flashback, um retorno ocasional dos efeitos da droga muitos dias depois de ela ter sido tomada. Ainda não se sabe o que provoca o flashback, embora se acredite que ele seja um processo psicológico e não químico. Mesmo assim, existem suspeitas de que o flashback possa ser disparado por fadiga psicológica ou ingestão de remédios antiestamínicos. Os efeitos a longo prazo do uso de LSD não foram determinados. Entretanto, sugere-se que a chance de reacções psicóticas seja mínima, desde que a droga seja ingerida com certas precauções. Administrada em experiências científicas com pessoas clinicamente classificadas como saudáveis, e devidamente alertadas sobre as alterações psicológicas que enfrentariam, a droga demonstrou não provocar maiores danos. Paradoxalmente, quando tomado sem supervisão médica especializada, o LSD pode resultar em estados temporários de pânico, medo, depressão e psicose. Um dos efeitos mais raros da droga é o "desmascaramento" de personalidades psicóticas que, embora aparentemente normais, deixam aflorar conflitos internos reprimidos ao ingerir LSD.
Após esse texto sobre LSD , que tal uma viagem limpa ao som de Porcupine Tree ?
Escute – Porcupine Tree : Voyage 34